"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." Cora Coralina
A atmosfera da Arte nos transporta a caminhos que desconhecemos, impondo naturalmente o belo como condutor e articulador de nossas ações, o que nos transfere o poder, porque somos capazes de mergulhar na construção, criando, recriando, com transparência, sem medo com a mesma displicência da criança, que ao se apossar de um lápis e um papel, se deleita em um prazer imenso, onde seu espaço, passa a ser o mesmo espaço que a sua mente determina e a partir daí coisas incríveis acontecem.....
A minha vida profissional perpassou caminhos que não planejei, fui durante 5 anos funcionária do Bradesco, ocupando a função de escriturária, nada de criativo, datilografava memorandos para as agências, cópias, “alienação”, repetia a mesma coisa o dia todo, o mês inteiro, o ano inteiro. Neste período conclui o curso técnico de turismo e foi possível transformar o meu percurso. Passei a trabalhar na Turismo Bradesco. Vi nesse momento, novas perspectivas, porque além de utilizar o que havia aprendido, poderia agora desenvolver um trabalho que me possibilitava criar, planejando as viagens para os turistas. Foi muito prazeroso desenvolver este trabalho, pois além de planejar eu também acompanhava o grupo na viagem. Estava muito feliz, nesta nova empreitada, mas infelizmente durou pouco tempo, um dos gerentes tinha a mania de convidar as garotas para sair com ele, e fui uma de suas vítimas. Eu, menina ainda inexperiente, ele um velho. Não tive dúvida. Eu não vou, imediatamente ele diz: “Vou demití-la”. Fique a vontade, disse-lhe e foi o que aconteceu. Fiquei desempregada. Este acontecimento ficou marcado em minha memória, mesmo por que a injustiça e o pouco caso ocorria de forma escancarada e ninguém fazia nada. Sem vacilar, fui à procura de um novo trabalho, e apesar de ter sido difícil encontrar, acabei sendo contratada como Secretária em uma empresa de adubos. Não gostei do ambiente, de sua energia, mas teria que me submeter, porque precisava pagar a faculdade. Consegui ficar nesse emprego, durante 6 (seis) meses, aos trancos e barrancos, até que não mais suportando, iniciei uma nova procura, e fui trabalhar na Xerox do Brasil. Fique satisfeita, porque a Xerox tinha uma estrutura, possuía pessoas que me tratavam como se fosse uma princesa. Neste trabalho permaneci 5 (cinco anos), até o momento em que engravidei e após o parto, tive que abandoná-lo. Nessa empresa, aprendi muito, e comecei a amadurecer como profissional. Cuidei de minha filha, durante 2 (dois) anos, quando surgiu em mim, um desejo forte de mudança. Um novo curso superior e uma nova profissão emergem Faculdade de Geografia. Surge a professora, a professora que descobre e articula o saber, criando e recriando em seu cotidiano. Assim, com a força da comunicação dentro de um desejo intenso de realizar, de mudar e alterar paradigmas, a professora alavanca sua existência, o prazer e o gosto se misturam, fazendo surgir a Coordenadora Pedagógica. Este momento foi de grande importância, pois ... acreditei na possibilidade de uma transformação social iminente, passo a acreditar que a comprovada flexibilidade do cérebro e percepção dos humanos, sugere a possibilidade de que a evolução individual pode conduzir a evolução coletiva. (FERGUSON 1995, p.67.) A coordenação trouxe para a minha vida profissional uma grande evolução, e um intenso crescimento. Organizar e articular a parte Pedagógica de uma escola é trabalhar com o coletivo (professores e alunos) é administrar os limites de cada um e ao mesmo tempo buscar estratégias, que viabilizem uma aprendizagem que traga a cultura de cada aluno como instrumento para esta estratégia. No ano de 1995 senti um vazio, que pedia uma nova realização. Uma ansiedade imensa me impulsionava, arrastando-me de forma avassaladora, e sentia que a mudança que eu aspirava, não seria ameaçadora, porque viria para ampliar e enriquecer. Vestibular, nova faculdade: "Psicologia", novidades. O amadurecimento favorecia a mudança e a cada ano eu percebia que esta nova formação misturava-se àquela já existente, dando sustento e eqüilíbrio. A Psicologia me ajudou a compreender melhor o mundo e as pessoas, e para isso tive que aprender a ouvir, observar, intuir, possibilitando ao outro a transformação pela orientação. A mudança de paradigma dava lugar à transformação. A nova perspectiva, a percepção que permite as informações unirem-se em uma nova forma e estrutura. A mudança de paradigma se refina e se integra, tenta eliminar a ilusão do ou.... ou... do isso ou aquilo. (FERGUSON - 1995, p.69). Nesta fase, experimentei, absorvi, comparei, testei, utilizei estratégias e o mais enriquecedor, apreendi como observar e como ajudar na cura do outro pela arteterapia. A minha supervisora de estágio era arteterapeuta e por isso participei do Projeto A Arteterapia na Brinquedoteca de Barueri, onde demos apoio a crianças com dificuldade na aprendizagem. Neste aprendizado descobri que todos nós temos o nosso espaço sagrado, o qual deve ser respeitado. Descobri que pela criação eu posso ver o outro e pela arte eu posso orientá-lo na reorganização de sua psique. Durante este aprendizado vivi conflitos, organizei e desorganizei-me, mas atingi o eqüilíbrio. Esse equilíbrio me fez constituir um sonho, que foi a montagem de meu consultório. Foi prazeroso realizar esse sonho, e motivo de grande felicidade. Acho que pela primeira vez em minha vida eu estava sintonizada com a minha verdade, com a minha vontade, a de ser terapeuta. Foi uma das maiores e melhores conquistas de minha vida, porque percebi que (...) quando uma pessoa libera uma nova capacidade esta torna de súbito evidente para outras, que podem então desenvolvê-la também. (FERGUSON, 1995, p. 67). Após um ano atendendo no consultório, percebi a necessidade de buscar novos caminhos, foi quando fiz o curso de Psicopedagogia. Não podendo fugir do movimento presente em mim, fui enganando os dias, disfarçando, tentando assegurar o conflito que, latente remeta-me a necessidade do novo, à força que me impulsionava, só pode ser comparada à da mulher prenhe, prestes a dar a luz. E como atitude, favorecendo o nascimento da nova criança, fui buscar o curso de arteterapia, porque queria trabalhar sempre de forma prazerosa, podendo ajudar o outro a transformar e equilibrar as suas emoções com estratégias que se distanciem do melindre e da dor. Meu desejo é buscar formas de cura pelo amor, pela satisfação, para que um dia esse encontro do você, com você mesmo acabe tendo uma qualidade energética mágica, fazendo com que o mundo conspire a meu favor, fazendo as coisas acontecerem. Hoje a arteterapia está para mim como a respiração está para o ar. Posso dizer que há uma descoberta alargando motivações que o tempo acanhou. Vivo hoje, a evocação de uma experiência concreta. Não existem mais véus tapando a possibilidade, porque o contato é real, e já pude vislumbrar o trabalho com a arteterapia, através do estágio com os idosos e o corpo docente e discente da escola. A cada oficina ficava mais evidente, a importância da Arteterapia como instrumento para despertar no outro a possibilidade de produzir, expandindo a sua criatividade e habilidades: pintando, misturando cores, relaxando, tecendo, criando formas, expressando sons, fazendo da música tocada a valsa para os pés; da folha seca e dos seixos, bonecos, borboletas; da argila a escultura; da terra a tinta para tingir a tela, fazendo o olhar do outro encher-se de curiosidade; transformar a pedra fria e dura em um colorido que a tinta pintou, refletindo uma paisagem. A cada dia uma novidade a cada objeto tocado, a transformação, um arame retorcido, uma forma; a reflexão, um olhar e o espelho refletindo o sentido da alma. Uma tela de fazer galinheiro, um alicate e a subjetividade de meu interior esboçado e refletido na construção de um vulcão que vomita flores de fuxico. A palha de coqueiro desprezada pela natureza, servindo de tela para as minhas criações. A terra, a massa acrílica, os traços, e o significado que aparece, quando preencho o vazio. E esse fazer me inquieta, fazendo movimento para produção, para criação, para planejar para o outro a satisfação de poder vivenciar a cada sessão ou a cada oficina, o prazer renovado da terapia pela arte.
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